segunda-feira, 29 de junho de 2015

Lições dos meus Alunos / Lessons from my Students

Read in English below.

***PT:
Depois das manhãs sendo o amigo do Neymar, faço um pitstop para comer e tomar um banho rápido, e assim estou pronto para o desafio das tardes: na creche Aprendizaje Divertido. Aqui temos uma realidade um pouco diferente da escolar de Volcancito – a creche é particular, assim que já encontramos condições mais favoráveis para os niños.

Creche Aprendizaje Feliz
Mas não imagine que seja uma escola super organizada, com pedagogos das melhores universidades e uma super estrutura. A Aprendizaje Divertido é uma creche humilde, que funciona no que era uma casa pequena, que atende àqueles pais que não podem cuidar dos filhos pois estão no batente. As crianças devem fazer suas tarefas, e depois disso podem brincar de algo para matar o tempo livre. As poucas professoras não são suficientes para ajudar às crianças que estão aprendendo a escrever ou  as operações básicas de matemática. Então, eu sou o “maestro Nuevo” (o novo professor) que pode dar um pouco mais de atenção pra eles.

Enquanto em Volcancito preciso coordenar as crianças de uma maneira mais massiva, aqui meu trabalho pode ser mais um-a-um. O mais interessante disso é que eu posso conhecer melhor cada criança, saber suas dificuldades e ver como posso ajudá-las nessas poucas horas que passamos juntos, afinal é uma oportunidade para eles de ter um apoio individual (por pelo menos 3 semanas).

Aqui começa a haver histórias interessantes: Há um menino de uns 9 anos que é autista, e, obviamente por suas dificuldades, ele não acompanha as dinâmicas com os outros. Eu fiquei um pouco perdido, sem saber como trabalhar com ele – eu estava ensinando as crianças a fazer aviõezinhos de papel, e o pobre menino destruía tudo. Eu, tentando controlar a situação, deixei ele brincar sozinho, à sua maneira, na ponta da mesa... mas alguns minutos depois ele chega pra mim, com cara de choro e uma voz meio medrosa: “me dá atenção!”. Aquilo me partiu o coração! Ora, não seria a escola o lugar para aprender que somos todos iguais e que não deveríamos tratar ninguém diferente? Que qualidade de maestro sou eu?! :(

Esse exercício de entender cada indivíduo e oferecer de mim o que lhe serve é a mágica do trabalho de um professor: ensinar aprendendo do aluno, por mais que minha idade seja o triplo da dele.

Mas para não deixar a impressão que somente estou sendo um mau professor nessa creche, existem episódios simples que me enchem de alegria: No meu primeiro dia na creche ajudei a todos com a tarefa de casa, que era recortar letrinhas de jornal para construir palavras novas. No segundo dia, eu vinha chegando, e Estaban, de 7 anos, vem correndo no jardim, me abraça e me diz: “Que bom que você chegou, professor! Eu estava te esperando para fazer a tarefa com você.”. Acho que eu nem tinha imaginado como o simples fato de ter ajudado Estaban a recortar letras de um jornal poderia fazer de mim O professor pra ele – que orgulho! Imagina se ele souber que sou amigo do Neymar... ;)

***EN:
After my mornings being the friend of Neymar, I have a quick break for lunch and shower, so that im ready for my afternoon challenges at the nursery Aprendizaje Divertido. Reality here is a bit different versus he school in Volcancito – this nursery is private, then we can expect better conditions for the kids.

Aprendizaje Feliz nursery
But don’t think that this will be a super school, with teachers from the best universities and a great 
structure. Aprendizaje Divertido é a simple nursery, run on what used to be a small a house, serving parents who cant take care of their kids as they are working hard. The kids there do their homework, and then they can play or do some activity to kill time. The few teachers there are not enough to help the kids who are mostly learning how to write or learning the basic operations in math. So, I am the “Nuevo maestro” (the new teacher) that can provide a little more of individual attention to them.

While in Volcancito I need to manage the kids in a more massive way, here my work can be more one-on-one. The best part is that I can get to know each child better, knowing their difficulties and figure out the best way to support them in these few hours that we have together, at the end this is an opportunity for them to have individual support (for at least three weeks).

Here we start to have interesting stories: there is this boy who is around 9, and he is an autist. So, obviously for his difficulties, he cannot follow the activities in the same pace as the other children. I was kind of lost, not knowing how to handle that situation – I was teaching the kids how to make paper airplanes and this boy was destroying all of it. I, in a try to keep things under control, let him play his way, alone, in the corner of the table… and then, a few minutes later, he comes to me, with this sad face, sounding scared: “give me attention!”. That broke my heart! Well, wasn’t it in the school where we learned that we are all equal, and that we shouldn’t treat people differently? What kind of maestro am I?! :(

This exercise of understanding each individual and offering something from me that can be useful for him/her is the real magic of a teacher’s job: teach while your learn from the student, even if you are 3 times older than this kid.

But, so that I don’t leave the bad impression that I am being a bad teacher in this nursery, there are some ordinary occasions that fill me with joy: In my first day in the nursery, I helped the kids with their homework, which was to cut letters out of a newspaper and build new words. In the second day, as I was arriving, and Estaban, 7 years, runs towards me and hugs me saying: “Great that you arrived, teacher! I was waiting for you to do my homework with you”. I never thought that my simple help with the cut-outs could make me THE teacher for him - Im so proud! Imagine if he finds out that I am Neymar’s friend... ;)

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Meu Desafio das Manhãs / My Morning Challenges

Read in English below

***PT:
Já com alguns dias aqui em Boquete (a cidade, por favor!), já tenho um pouco de uma rotina aqui e já comecei a por a mão na massa nessa minha aventura. A fundação que me recebeu me “agenciou” para 2 projetos com crianças aqui na cidade, e está sendo uma super experiência ter que lidar com os niños! :)

Escola de Volcancito
Todas a manhãs eu estou na escola primária de Volcancito, uma escola pública com todas as limitações das usuais escolas pública da América Latina – na há salas suficientes, as salas são precárias, os professors faltam, os professores que vão não tem muito e$tímulo para estar ali, entre outros problemas. Mas a Escola de Volcancito tem ainda uma particularidade: 95% dos seus alunos são indígenas (ou indíos que abandonaram suas comarcas). O Panamá não-urbano tem ainda muitas tribos indígenas, que vivem em suas comarcas nas florestas. Muitos índios saem de suas tribos para a vida do “homem branco”, e terminam nas regiões rurais do país para trabalhar na agricultura, como em Boquete (Boquete é uma região famosa pelas plantações café). Como de se esperar, essa populacão passa a viver meio desamparada, em condições de vida precárias, e a Escola de Volcancito - mesmo tão limitada, é uma esperança para que essa população saia da margem da sociedade.

Pátio Escola de Volcancito
O desafio para Volcancito é grande: além de suas limitações “default”, suas crianças tem pais na maioria analfabetos, que nem sempre entendem/priorizam a educação dos filhos, ou que nem mesmo podem proporcionar as condições básicas para educação em casa (segundo uma professora, muitas das famílias vivem em cabanas no campo). Em poucos dias visitando a escolar já percebi como os alunos faltam muito, e como existe pouca disciplina com a educação – chocante para mim, um menino sortudo de estudar nas melhores escolas privadas onde a realidade não acontece. E como eu, em 3 semanas (oh, 3 semanas que pareciam tão valiosas no trabalho para resolver problemas de tantos milhões de dólares!) posso contribuir com um grãozinho de areia numa realidade tão complexa? Na verdade, não acho que consiga mudar algo, mas estou aqui para pelo menos fazer com que existam 3 semanas um poquinho mais especiais na vida dessas crianças. Vamos tentar!

20 minutos subindo a serra
Meu desafio começa em chegar em Volcancito. São 35 minutos de caminhada, sendo que 20 min são subindo (escalando!) uma serra, por um trilha. O clima fresco daqui ajuda, assim como a paisagem verde, mas eu preciso tirar a camisa para não chegar enxarcado de suor na escola! O sr. Diretor de Volcancito pediu para eu ser o professor de educação física nessas semanas, para jogar bola com as crianças. A melhor parte é que eu, brasileiro, não sei nada de futebol, e logo que chego, um aluno me diz: “ah, você é brasileiro! Então você é jogador professional de futebol! Você conhece Neymar?”… É, meus desafios estão cada vez maiores! Mas vamos lá: o Google outra vez me ajudou a pegar dicas de aulas, brincadeiras de roda e canções de roda em español, além disso, improvisei uma boa pose e acho que as crianças acham que eu sei algo de futebol pelo menos.

Mas o legal de trabalhar com criança é que todas essas soluções terminam funcionando, e eles aproveitam cada segundo dessas aulas improvisadas. Bom, partindo do ponto que Educação Física era o horário em que as professoras largavam os alunos no pátio, sem nenhuma coordenação, ter eu, o brasiliero amigo de Neymar, inventando brincadeiras e narrando as partidas de futebol, até pode ser um upgrade… e na verdade, isso termina sendo meu grãozinho de areia: se algum dia, algum aluno quiser ir pra escolar porque lembrou que “ontem foi legal com  amigo de Neymar”, minhas 3 semanas aqui valerão mais que aqueles milhões que eu estava me estressando no trabalho.

Logo mais eu conto sobre meu projeto  das tardes :)

***EN:

With some days here in Boquete, I already have some routine and I have already started some activity in this adventure. The foundation that received me networked me for 2 projects with children, here in the city – and it has been a great experience to deal with these niños!

School of Volcancito
Every morning I am in the primary school of Volcancito, a school funded by the government with all the limitations that these schools usually have in Latin America – there aren’t enough rooms, the rooms are poorly equipped, teachers don’t show up, the ones that come are not motivated ($) enough, among other issues. Also, the school of Volcancito has a particularity: 95% of its students are indians (or indians who left their tribes). The non-urban Panama still has many indians tribes in the juggles, and many of them leave the tribes to live the ‘white men’ life, coming to work in farms, like in Boquete (Boquete is a well-known region for its coffee platations). As expected, this population ends up living in poor conditions, without government support; and the school of Volcancito becames hope for a way for this population to be an actual part of the society.

Playground of the school
The challenge for Volcancito is big: besides its default limitations, its kids have parents that are illiterate, that may not understand/prioritize the importance of education for the children. They sometimes don’t even have the basic conditions to support their education at home (according to one teacher, many of these families live in tents in the countryside). In a few days visiting the school I could notice that students often miss classes, and how there is little commitment to education – shocking for me, a lucky boy who could always study in the best private schools, where reality does not exist. So, how can I in only 3 weeks (oh, 3 weeks that seemed so important to sort out issues of millions of dollar at work!) contribute in such a complex reality? Actually, I don’t believe I am able to change anything, but I am here to at least make there be 3 weeks in which these kids lived more special days at school. Lets give it a try!


20 minutes uphill
My challenge starts by getting to Volcancito. It is a 35-minute walk, of which 20 minutes are uphill (climbing!), in a trail. The cool weather and the beautiful green view make it easier, but still I need to take make shirt off, otherwise I would get to the school all sweaty.  Volcancito’s principal assigned me to be the Physical Education teacher in these weeks, so that I could play soccer with the kids. The funny thing here is that I – the Brazilian guy, know nothing about soccer, and in my first day this boy comes say to me: “wow, you are Brazilian! You must be a professional soccer player then! Do you know Neymar?”… Right, my challenges are getting bigger here! But lets go: Google, once more, saved me with some tips for physical education lessons, besides some games and nursery rhymes in Spanish. I also tried to pretend to be the expert in soccer, so that the kids think I at least know something.

The coolest thing about working with kids is that all these efforts work, and they take the most out of these not-professional classes.  Well, thinking that Physical Education classes would be the time of the day when the teacher would leave the kids in the playground, without any coordination, having me, the friend of Neymar, playing games and narrating their soccer matches, can be an upgrade… and then this ends up being my actual contribution: if someday, one of these kids decides to go to school because he/she remembered that “yesterday was a fun day at school”, these 3 weeks in Boquete will be more valuable than those millions that I was getting stressed about at work.


Soon I will write about my afternoon project :)

segunda-feira, 22 de junho de 2015

A Partir do Ponto Zero / Starting from Point Zero


Read in English below

***PT:
Depois de 4 anos no Panamá, minha Aventura por aqui está terminando, e você não tem idéia de quanto triste é pensar que isso acabou. O Panamá foi uma surpresa que continua me surpreendendo a cada dia. Me senti em casa: fui bem-vindo, bem tratado e bem cuidado…fui muito feliz aqui, e como tenho a agradecer a esse país! Toda essa gratidão me leva a meu último projeto aqui. Decidi me dedicar a um trabalho social, por algumas semanas, afinal depois de tantas bençãos, alegrias, conquistas em um mundo tão material que vivo, eu também quero relembrar/sentir uma experiencia mais humana e instrospectiva.

Meu plano é partir de um ponto zero: não conheço ninguém, sou um Zé Ninguém, e com isso construir uma experiecia baseada nas mais espontâneas relações humanas (as vezes penso que com dinheiro na carteira e um par de conhecidos influentes, é muito fácil fazer qualquer coisa). Com essa idéia e umas pesquisas no Google, encontrei Boquete - a cidade (ok, no Panamá existe essa cidadezinha que se chama Boquete, mas não pense que existe algo obsceno nela), onde eu me inscrevi na fundação Unexpected Moments of Magic – eles se encarregam de encontrar projetos que eu possa trabalhar voluntariamente, de acordo com meu perfil.



Desarmei minha vida na Cidade do Panamá: deixei o trabalho, entreguei meu apartamento, vendi meu carro, e ontem peguei um ônibus para Boquete. Foram quase 12 horas de viagem e um pouco de medo de não saber bem o que vem pela frente, mas também um pouco de adrenalina que me faz sentir humano, e lembrar que sou frágil e forte, feliz e triste, boa e má pessoa.

Hoje começa o dia 1 das 3 semanas em Boquete… vou tentar fazer aqui um diário dessa experiência. Vamos lá! :)

*** EN:
After 4 years in Panama, my adventure here is coming to an end, and you have no idea of how sad it is to think that this is over. Panama was a great surprise that keeps on surprising me each day. It felt like home: I was welcome, well-treated and well-taken-care-of… I was really happy here, and I am very thankful to this country! All my thankfulness takes me to my last project here: I decided to do some social work, for a few weeks – after so many blessings, happy moments, conquers in a very material world, I also wanted to remember & feel a more human and introspective experience.

My plan is to start from the point-zero: I know no one, no one knows me, and from there have an experience that is based on the most spontaneous human relationships (sometimes I think that with money in your pocket and a couple of influent friends, anything can become an easy job). With this in mind and some help from Google I found Boquete – a small town inPanama, where I reached the Unexpected Moments of Magic Fundation – they take care of finding you the right project for you to volunteer, according to your profile.


I got ready to leave Panama City: left my job, rented my apartment, sold my car, and yesterday I got on a bus to Boquete. It was a 12 hour trip, a bit afraid of what I would have ahead, but still it was exciting, feeling very human, remembering that I am fragile and strong, happy and sad, a good and bad person.

Today is day 1 of this three-week stay in Boquete… I will try to keep up this journal about this experience. Lets go! :)